Gosto do
verso
curto
Da palavra
forte
Que
quando
lançada
explode
despedaça
em
mil
interpretações
rítmicas
coloridas
duas cores
Que de
repente
e v a p o r a
visto que
é rápido
mas que
retorna
circula
volta
Em
um
natural
poetar
Postagem em destaque
Atraso
Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....
domingo, 29 de novembro de 2009
sábado, 28 de novembro de 2009
Nome
Seja
Nome
Se não você
some
seu nome
Quando ouviu?
Ouviu?
Que nome estranho!
Identidade
personalidade
Direito
ou dever?
Ouviu?
Chamam você
De todas
as funções
Você é função
Amor, mãe, tia,
professora, madrinha,
vizinha,aluna,nora,vó...
Quando a chamam
pelo nome
se assusta?
Esqueceu seu nome?
As vezes
Lembrar
também requer uma
função
A função que é
tudo isso
A de poeta!
Nome
Se não você
some
seu nome
Quando ouviu?
Ouviu?
Que nome estranho!
Identidade
personalidade
Direito
ou dever?
Ouviu?
Chamam você
De todas
as funções
Você é função
Amor, mãe, tia,
professora, madrinha,
vizinha,aluna,nora,vó...
Quando a chamam
pelo nome
se assusta?
Esqueceu seu nome?
As vezes
Lembrar
também requer uma
função
A função que é
tudo isso
A de poeta!
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Reflexões capitalistas
Bom dia!
Quais são os planos de hoje?
Caçar a sobrevivência
Caçar dinheiro
Eis a selva da vida
Alma de predadores
arma de predadores
Que caçada desleal
a isca é o próprio dinheiro
Alma de predadores
arma de predadores
O trabalho
porta pra caça
entrega de armas
compradas com
o círculo do dinheiro
Alma de predadores
arma de predadores
Quais são os planos de hoje?
Caçar a sobrevivência
Caçar dinheiro
Eis a selva da vida
Alma de predadores
arma de predadores
Que caçada desleal
a isca é o próprio dinheiro
Alma de predadores
arma de predadores
O trabalho
porta pra caça
entrega de armas
compradas com
o círculo do dinheiro
Alma de predadores
arma de predadores
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Nódoa
Nódoa
Claro o dia
Desperdício
de latas de mágoas
sacudidas na cabeça
É sabor
de fel e sal
naquela conversa
depressa e saciada
Sobre a calçada cansada
estrupiada
saltada no muro
inerte
flerte do sabor
Sabor
sábado calado
Calor sapecado no lavabo
Sentir pinceladas de tinta
na retina extinta
dos teus olhos
cansados
e silenciados pela noite
Claro o dia
Desperdício
de latas de mágoas
sacudidas na cabeça
É sabor
de fel e sal
naquela conversa
depressa e saciada
Sobre a calçada cansada
estrupiada
saltada no muro
inerte
flerte do sabor
Sabor
sábado calado
Calor sapecado no lavabo
Sentir pinceladas de tinta
na retina extinta
dos teus olhos
cansados
e silenciados pela noite
sábado, 21 de novembro de 2009
Um fogo
Um fogo espalhou
Baldes de água
nele
Era fogo na palha
mas da palha
esparramou
Virou incêndio
queimou
realidade
tranquilidade
poemas
boatos
e sapatos
entardecer
O incêndio
destruiu
teorias
manias
E agora?
reconstruir
o quê?
No lugar
destruído
nasceu um
jardim
Natural
natureza
Um jardim
escondido
como
uma
história
proibida
O jardim?
as vezes
desaparece
Água nele.
Baldes de água
nele
Era fogo na palha
mas da palha
esparramou
Virou incêndio
queimou
realidade
tranquilidade
poemas
boatos
e sapatos
entardecer
O incêndio
destruiu
teorias
manias
E agora?
reconstruir
o quê?
No lugar
destruído
nasceu um
jardim
Natural
natureza
Um jardim
escondido
como
uma
história
proibida
O jardim?
as vezes
desaparece
Água nele.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Ovo: novo
Sua mãe frequentou o MOBRAL. Isabel tinha seis anos e seu irmão quatro. Moravam numa casa simples. Seu pai era barbeiro, profissão na época útil. Então, a mãe de Isabel, uma Senhora de 34 anos, já marcada pelas dificuldades, resolveu voltar a estudar. Não desistiu, aproveitou a chance do governo da época, precisava se alfabetizar.
Ás vezes levava Isabel, que naquela época, pela pouca idade, ainda não ia à escola regular. Outras vezes Isabel ficava com seu irmão na casa de uma vizinha, que também ia para o MOBRAL. As crianças ficavam com uma menina de quinze anos.
E, numa dessas vezes que ia com a mãe , Isabel ficou maravilhada com a cartilha. Mais com as gravuras. A lição naquele dia era ¨O ovo". Então tinha uma foto de um prato com arroz, branquinho, bem arrumadinho no prato, ao lado feijão, um ovo bem bonito frito e uma rodela de tomate bem vermelhinha. Era tão apetitoso. Na casa de Isabel não havia esse cardápio. Em casa era só arroz, feijão, torresmo e mandioca. Torresmo porque sobrava da fritura da banha de porco, criado no quintal, mandioca porque o pai plantava.
Esse prato da cartilha abria o apetite e a cabeça de Isabel. Abria o leque das comparações com um mundo diferente do seu. Foi a primeira comparação. E como Eva teve seus olhos abertos para as coisas que existiam e que não era pra todo mundo, Isabel abriu seus olhos tapados pela inoscência.
E com a palavra OVO viriam outras como o nOVO , como a vida nascendo e renascendo na gema.
Ás vezes levava Isabel, que naquela época, pela pouca idade, ainda não ia à escola regular. Outras vezes Isabel ficava com seu irmão na casa de uma vizinha, que também ia para o MOBRAL. As crianças ficavam com uma menina de quinze anos.
E, numa dessas vezes que ia com a mãe , Isabel ficou maravilhada com a cartilha. Mais com as gravuras. A lição naquele dia era ¨O ovo". Então tinha uma foto de um prato com arroz, branquinho, bem arrumadinho no prato, ao lado feijão, um ovo bem bonito frito e uma rodela de tomate bem vermelhinha. Era tão apetitoso. Na casa de Isabel não havia esse cardápio. Em casa era só arroz, feijão, torresmo e mandioca. Torresmo porque sobrava da fritura da banha de porco, criado no quintal, mandioca porque o pai plantava.
Esse prato da cartilha abria o apetite e a cabeça de Isabel. Abria o leque das comparações com um mundo diferente do seu. Foi a primeira comparação. E como Eva teve seus olhos abertos para as coisas que existiam e que não era pra todo mundo, Isabel abriu seus olhos tapados pela inoscência.
E com a palavra OVO viriam outras como o nOVO , como a vida nascendo e renascendo na gema.
domingo, 15 de novembro de 2009
No limite da morte
No zoo morte de animais? Por quê?
O lugar mais deprimente não é o cemitério é o zoológico. Não era pra ser. Lá a natureza animal seria natural se não fosse triste.
Triste olhar nos olhos ou no olho do leão(cego de um olho), da onça, limitados a uma minúscula jaula cheirando mal. E pensar que eram filhotes desajeitados correndo em volta da mãe assassinada, ou nasceram no cativeiro sem conhecer o seu habitat. Poderiam estar bebendo água pura caçando seu sustento. Que crime estes animais cometeram?
Olhe os pássaros engaiolados sem poder usar suas asas, livres pelo céu, empoleirar nas árvores de tardezinha!
Veja as cobras enroladinhas dormindo. Não podem se desenrolar, não cabem no viveiro!
Mirem o macaco que não pula de galho em galho, está numa ilha. Não pode ser feliz.
Percebam a girafa! Vai... Seu pescoço alcança o limite do zoo. Ela olha e vê seu mundo tão pequeno.
Meu Deus, vale a pena ver tanta tortura? É possível ter prazer em ver bicho triste?
Mais uma morte no zoo!
Será o jacaré? E pensar...
O lugar mais deprimente não é o cemitério é o zoológico. Não era pra ser. Lá a natureza animal seria natural se não fosse triste.
Triste olhar nos olhos ou no olho do leão(cego de um olho), da onça, limitados a uma minúscula jaula cheirando mal. E pensar que eram filhotes desajeitados correndo em volta da mãe assassinada, ou nasceram no cativeiro sem conhecer o seu habitat. Poderiam estar bebendo água pura caçando seu sustento. Que crime estes animais cometeram?
Olhe os pássaros engaiolados sem poder usar suas asas, livres pelo céu, empoleirar nas árvores de tardezinha!
Veja as cobras enroladinhas dormindo. Não podem se desenrolar, não cabem no viveiro!
Mirem o macaco que não pula de galho em galho, está numa ilha. Não pode ser feliz.
Percebam a girafa! Vai... Seu pescoço alcança o limite do zoo. Ela olha e vê seu mundo tão pequeno.
Meu Deus, vale a pena ver tanta tortura? É possível ter prazer em ver bicho triste?
Mais uma morte no zoo!
Será o jacaré? E pensar...
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Camisa veste e investe
Veste a fera que a vida fez de você.Veste a criança que não queria ser.Veste a filha que não pode crer.Veste o anjo perdido das trevas,veste o índio sagaz , sonho imaculado.Veste a ira, precipício do prazer.Veste o natal nascimento de queixas fraternais.Investe contra esta fera contra uma aliança e a filha de estradas dissimuladas Investe no anjo encontrado em luz e sagas, sonho iluminado e na calma do precipício do querer.Investe no nascimento de um momento de tarjas rosas mestiço do não ser.
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Escolhas
E o Deig ficou pra trás.
O caminhão de frete chegou para carregar a mudança. Tralha de pobre cheirando a baratas. Dona Maria, tímida, carregava a caixa de panelas. Não tinha muitas coisas. Só uma prateleira velha, um fogão de segunda mão, uma mesa com quatro cadeiras, uma máquina de costura, um guarda-roupa velho, uma cama de casal e uma de solteiro. Mas dava um trabalho carregar móveis velhos porque eram frágeis. Ajudando na mudança estavam o motorista, duas crianças e seu João, marido de Dona maria.
Naquele momento seu João e o motorista carregavam o guarda-roupa . Deig ia latindo atrás do motorista, que já estava se zangando. Junto com o cachorro, uma mistura de vira latas com perdigueiro, duas crianças carregavam seus brinquedos(bonecas velhas, carrinhos sem as rodas e panelas sem as tampas)numa caixa de papelão.
No coração de Dona maria batia uma contrariedade doída de ter que deixar seu barracão, construído com tanta dificuldade. No peito de seu João batia a esperança de melhor trabalho e na alma das crianças só farra mas no olhar de Deig batia o pressentimento de que nos planos daquela família não haveria lugar pra ele. E, de repente ele deixou de atormentar o motorista e se aquietou enroladinho debaixo de uma sombra de um pé de manga. Ele tinha razão. Ele não iria com a família. A família ia mudar de cidade e na nova casa o quintal era aberto e Deig era valente, criador de caso. Não podia ficar solto. Amarrado? Era contra os princípios de Dona Maria. O cão então seria doado ao irmão de seu João, que viria buscá-lo depois.
E naquele vai pra lá e vem pra cá, do barracão para o caminhão, Deig ficava acompanhando só com aqueles olhos decepcionados como se adivinhasse o seu destino.
Dona Maria percebeu a tristeza do cão e seu coração ficava mais apertado. Lembrou do dia que aquele bichinho peludinho, pequenininho e redondinho chegou em sua casa. Ele foi dado pela vizinha, que toda orgulhosa dizia que era mestiço de perdigueiro. Ele chorava muito a noite como todo filhotinho de cão desmamado à força. Dona Maria não perdia a paciência como toda mulher apaixonada por bichinho e levantava várias vezes para aconchegá-lo na caixinha de papelão e dava um leitinho quentinho numa vasilhinha reciclada de marmelada. Ele ficava lá fora debaixo do jirau. Dentro de casa fazia a maior sujeira. Seu João sem paciência, dizia que iria soltá-lo bem longe, não aguentava o choramingar do cãozinho à noite toda, afinal, precisava dormir , tinha que levantar cedo pra trabalhar. O cão cresceu, ficou enorme, valente mas dócil com a família.
As crianças amavam aquele bichinho. Ele adorava as crianças e Dona maria amava os quatro. Conta estranha: contava com o Seu João também. Seu joão fazia de durão mas tinha respeito pelo cachorro. Gostava dele.
Tinham carregado a mudança, fechado as portas, é hora de entrarem no caminhão: seu João na carroceria, junto com a mudança, Dona Maria na cabine junto com as crianças e o motorista. O cachorro lá fora. Choramingava, latia e pulava no caminhão sem alcançar. Voltou assustado com a partida do motor. Triste, cabisbaixo, sentou-se e ficou olhando o caminhão sair devagarinho. Depois o caminhão foi aumentando a velocidade e Deig foi ficando pra trás miudinho, miudinho até desaparecer.
O caminhão de frete chegou para carregar a mudança. Tralha de pobre cheirando a baratas. Dona Maria, tímida, carregava a caixa de panelas. Não tinha muitas coisas. Só uma prateleira velha, um fogão de segunda mão, uma mesa com quatro cadeiras, uma máquina de costura, um guarda-roupa velho, uma cama de casal e uma de solteiro. Mas dava um trabalho carregar móveis velhos porque eram frágeis. Ajudando na mudança estavam o motorista, duas crianças e seu João, marido de Dona maria.
Naquele momento seu João e o motorista carregavam o guarda-roupa . Deig ia latindo atrás do motorista, que já estava se zangando. Junto com o cachorro, uma mistura de vira latas com perdigueiro, duas crianças carregavam seus brinquedos(bonecas velhas, carrinhos sem as rodas e panelas sem as tampas)numa caixa de papelão.
No coração de Dona maria batia uma contrariedade doída de ter que deixar seu barracão, construído com tanta dificuldade. No peito de seu João batia a esperança de melhor trabalho e na alma das crianças só farra mas no olhar de Deig batia o pressentimento de que nos planos daquela família não haveria lugar pra ele. E, de repente ele deixou de atormentar o motorista e se aquietou enroladinho debaixo de uma sombra de um pé de manga. Ele tinha razão. Ele não iria com a família. A família ia mudar de cidade e na nova casa o quintal era aberto e Deig era valente, criador de caso. Não podia ficar solto. Amarrado? Era contra os princípios de Dona Maria. O cão então seria doado ao irmão de seu João, que viria buscá-lo depois.
E naquele vai pra lá e vem pra cá, do barracão para o caminhão, Deig ficava acompanhando só com aqueles olhos decepcionados como se adivinhasse o seu destino.
Dona Maria percebeu a tristeza do cão e seu coração ficava mais apertado. Lembrou do dia que aquele bichinho peludinho, pequenininho e redondinho chegou em sua casa. Ele foi dado pela vizinha, que toda orgulhosa dizia que era mestiço de perdigueiro. Ele chorava muito a noite como todo filhotinho de cão desmamado à força. Dona Maria não perdia a paciência como toda mulher apaixonada por bichinho e levantava várias vezes para aconchegá-lo na caixinha de papelão e dava um leitinho quentinho numa vasilhinha reciclada de marmelada. Ele ficava lá fora debaixo do jirau. Dentro de casa fazia a maior sujeira. Seu João sem paciência, dizia que iria soltá-lo bem longe, não aguentava o choramingar do cãozinho à noite toda, afinal, precisava dormir , tinha que levantar cedo pra trabalhar. O cão cresceu, ficou enorme, valente mas dócil com a família.
As crianças amavam aquele bichinho. Ele adorava as crianças e Dona maria amava os quatro. Conta estranha: contava com o Seu João também. Seu joão fazia de durão mas tinha respeito pelo cachorro. Gostava dele.
Tinham carregado a mudança, fechado as portas, é hora de entrarem no caminhão: seu João na carroceria, junto com a mudança, Dona Maria na cabine junto com as crianças e o motorista. O cachorro lá fora. Choramingava, latia e pulava no caminhão sem alcançar. Voltou assustado com a partida do motor. Triste, cabisbaixo, sentou-se e ficou olhando o caminhão sair devagarinho. Depois o caminhão foi aumentando a velocidade e Deig foi ficando pra trás miudinho, miudinho até desaparecer.
domingo, 1 de novembro de 2009
O jogo dos contrários
Maria Rita acordou meio diferente. Estava com uma vontade de viver. Não sabia o porque. Pensou que fosse maluquice, distúrbio hormonal ou coisa assim. Afinal a rotina diária como acordar cedo sempre a incomodava. Ainda na cama, abria os grandes olhos negros, olhava pro marido que ressonava. Olhava para o quarto escuro de janla fechada e via fiapos de luz do sol.
Naquele dia não ouviu o cantar dos passarinhos na mangueira, latidos de cachorros e batuques na cozinha da vizinha.
Esfregou os olhos que não queriam abrir. Gostava de acordar tarde porque dormia tarde mas neste dia queria aproveitar o dia, no entanto aquela vontade de viver deslocou uma vontade de amar, de tocar aquele homem. Observou seu perfil ao lado, de um ângulo que gostava, o direito. Ele tinha um nariz anguloso, másculo. Os traços do nariz eram marcas de sua personalidade: homem bem resolvido, de atitude e ao mesmo tempo terno. Agora olhando seus olhos fechados lembrava daquele olhar doce, preocupado. Percebeu que nunca tinha lhe dito isto. A boca era bem feita, sorridente e os dentes tinham harmonia. Lembrou do som de sua risada escandalosa, brincando com ela, quando não queria amar. Do seu jeito autêntico que não tava nem aí para que os outros pensassem quando não entendia de arte, literatura e todos os apetrechos de um cidadão preparado para argumentar. Ele era simples e livre como um cavalo solto. Sabia o que queria. Ele era um homem bom e ainda por cima honesto e bonito. Maria Rita se sentia feliz . Não sabia e não percebia. Só naquele dia.
Ela sabia que felicidade não podia ser comentada, espalhando, fazendo propaganda porque tinha medo de acordar e em sua vida toda até um pouco antes quando se sentia feliz vinha logo a seguir uma infelicidade. Sempre vinha o contrário. Tinha medo dos contrários. Por isto sempre dizia não quando queria dizer sim. E sempre dizia sim quando queria dizer não. Era um modo de driblar o que não queria.
Nesse dia percebeu que seu marido não a quis como em quase todas as manhãs. Olhou direito. Olhou de novo. Piscou os olhos. Já não via o mesmo de quando abriu os grandes olhos negros. E só passara alguns minutos. Será o que houve? Não era ele? Não era seu quarto? Cadê os sons que povoavam seu dia-a-dia? Os cachorros latindo? Os pássaros cantando? O batuque na cozinha da vizinha?E aquela preocupação dos afazeres da casa? E a irritação da bagunça dos cachorros?Das formigas que devoravam suas rosas?
O silêncio propagou ondas.
Ela quis viver, fazer o habitual café, ir à padaria, chegar. Sentar com as filhas e tomar o café, comentar coisas fúteis, dar biscoito aos cachorros, despachar o marido para o trabalho, cheirar a rosa, pensar na vida.
Olhou para o marido de novo. Resolveu levantar-se. Foi até a porta e estava trancada sem a chave. Pensou: Tudo certo, ele trancou porque estava com ´"má intenção". Mas tenho que acordá-lo, preciso ir ao banheiro. Voltou, tocou nele. Chamou seu nome. E nada! Meu Deus, será que... Ele tossiu. Ai que alívio - pensou. Mas que sono pesado é este? Foi até a porta de novo. Lembrou do filme ghost e pensou: Se eu fosse um espírito passaria por esta porta. Tentou brincando...
Ela passou. Sua mente explodiu em um susto. Que isto? Estou dormindo? Quero acordar! Passou de volta para o quarto, olhou na cama. Lá estava. Uma mulher abraçada, em forma de conchinha, ao seu marido, dormindo. Não reconheceu aquela mulher. Chegou perto, bem perto. Parecia um retrato seu. Ela não respirava. Jesus, Maria, José...Era ela.
E não pensar e pensar, aceitar e não aceitar, em rir e chorar (as emoções ao contrário) percebeu e não percebeu, compreendeu e não compreendeu: era feliz naquele dia , mas não fez o jogo dos contrários.
Naquele dia não ouviu o cantar dos passarinhos na mangueira, latidos de cachorros e batuques na cozinha da vizinha.
Esfregou os olhos que não queriam abrir. Gostava de acordar tarde porque dormia tarde mas neste dia queria aproveitar o dia, no entanto aquela vontade de viver deslocou uma vontade de amar, de tocar aquele homem. Observou seu perfil ao lado, de um ângulo que gostava, o direito. Ele tinha um nariz anguloso, másculo. Os traços do nariz eram marcas de sua personalidade: homem bem resolvido, de atitude e ao mesmo tempo terno. Agora olhando seus olhos fechados lembrava daquele olhar doce, preocupado. Percebeu que nunca tinha lhe dito isto. A boca era bem feita, sorridente e os dentes tinham harmonia. Lembrou do som de sua risada escandalosa, brincando com ela, quando não queria amar. Do seu jeito autêntico que não tava nem aí para que os outros pensassem quando não entendia de arte, literatura e todos os apetrechos de um cidadão preparado para argumentar. Ele era simples e livre como um cavalo solto. Sabia o que queria. Ele era um homem bom e ainda por cima honesto e bonito. Maria Rita se sentia feliz . Não sabia e não percebia. Só naquele dia.
Ela sabia que felicidade não podia ser comentada, espalhando, fazendo propaganda porque tinha medo de acordar e em sua vida toda até um pouco antes quando se sentia feliz vinha logo a seguir uma infelicidade. Sempre vinha o contrário. Tinha medo dos contrários. Por isto sempre dizia não quando queria dizer sim. E sempre dizia sim quando queria dizer não. Era um modo de driblar o que não queria.
Nesse dia percebeu que seu marido não a quis como em quase todas as manhãs. Olhou direito. Olhou de novo. Piscou os olhos. Já não via o mesmo de quando abriu os grandes olhos negros. E só passara alguns minutos. Será o que houve? Não era ele? Não era seu quarto? Cadê os sons que povoavam seu dia-a-dia? Os cachorros latindo? Os pássaros cantando? O batuque na cozinha da vizinha?E aquela preocupação dos afazeres da casa? E a irritação da bagunça dos cachorros?Das formigas que devoravam suas rosas?
O silêncio propagou ondas.
Ela quis viver, fazer o habitual café, ir à padaria, chegar. Sentar com as filhas e tomar o café, comentar coisas fúteis, dar biscoito aos cachorros, despachar o marido para o trabalho, cheirar a rosa, pensar na vida.
Olhou para o marido de novo. Resolveu levantar-se. Foi até a porta e estava trancada sem a chave. Pensou: Tudo certo, ele trancou porque estava com ´"má intenção". Mas tenho que acordá-lo, preciso ir ao banheiro. Voltou, tocou nele. Chamou seu nome. E nada! Meu Deus, será que... Ele tossiu. Ai que alívio - pensou. Mas que sono pesado é este? Foi até a porta de novo. Lembrou do filme ghost e pensou: Se eu fosse um espírito passaria por esta porta. Tentou brincando...
Ela passou. Sua mente explodiu em um susto. Que isto? Estou dormindo? Quero acordar! Passou de volta para o quarto, olhou na cama. Lá estava. Uma mulher abraçada, em forma de conchinha, ao seu marido, dormindo. Não reconheceu aquela mulher. Chegou perto, bem perto. Parecia um retrato seu. Ela não respirava. Jesus, Maria, José...Era ela.
E não pensar e pensar, aceitar e não aceitar, em rir e chorar (as emoções ao contrário) percebeu e não percebeu, compreendeu e não compreendeu: era feliz naquele dia , mas não fez o jogo dos contrários.
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