Parada

Na ponta da caneta
Vermelha?

Na fresta da porta
a visão
míope?

Na cor da rede
Daltônica?

No dobrar e desdobrar
azul?

Na voz suplicante
compre!

Na dúvida:
é de casal?

E o dia floresce
a noite mal dormida

E a vida se esvai
consumida

O latido do cão agoniado
que queria ser livre

O remédio para dormir
não resolve
a parada da vida

Na ponta da caneta
a cor...

Eterno?

Quanta esperança de se tornar eterno.Faz-se de tudo. Até construir pessoas numa só.

Olhar-se na poesia, nos contos inventados a fogo e estátua bela. Moldes, modelos e apelos ao chamado belo.

Acorda-se para o ego, dorme-se com ele e a palavra forte sai mas não é coerente com o que se é. E procura-se a palavra bela, diferente para se tornar eterno.

Vida não combina com eterno e mesmo assim vive-se para ele.

Quer marcar a vida para que após se continue vivo. Será possível isto? E em uma estátua de palavras, gestos é imposto o belo, o ético, o diferente, o justo, a fé. A falta de fé é temida. E se existir um Deus que nos julga? Na dúvida é melhor sermos bons, justos, seguirmos regras de conduta. É o medo? É melhor acreditar. É mais fácil acreditar.

Na verdade a fé acalenta. Fé veio para orientar. Seja fé em um Deus ou no que se acredita. A própria vida, dizem, é uma marca de fé. E dizem os livros supostos de ajuda: "Você viveu, deixou sua marca de humanos, ainda por cima seu DNA." Como viveu? Precisa mais de marcas? Qualquer uma?

Ovo, novo

Tem vida no ovo?
Tem vida no novo

Tem festa, férias
chocolate com coco

Tem vida no ovo?
Tem vida no novo

Tem nascimento, formatura
Pizza, feriado
pastel e feira

Tem vida no ovo?
Tem vida no novo

Tem humor na TV
Saramago, Lya Luft
Dormir até tarde

Tem vida no ovo?
Tem vida no novo

Tem ócio na cama
poemas,crônicas
compor sem regras

Tem vida no ovo?
Tem vida no novo

Tem vontade
de quebrar o ovo
e extrair

antes do tempo

a vida
o novo