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Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Fôrmas e formas

Banaliza-se:

corpo
sexo
vida

Que

se não se encaixa

evapora
esconde
aniquila

os não encaixados

se constrangem
se isolam

Na mesma medida não se encontram

no mercado
na moda
no lazer

A vida é formada em fôrmas

minúsculas



Até o fotoshop

enlouqueceu

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Reflexo

Uma promessa: Nada de espelhos, vidraças ou qualquer coisa que refletiria imagens. Isto incluiria fotografias, vídeos...

A única coisa que faria imagens seriam as palavras. Escritas. Porque elas mostrariam verdadeira face. As imagens refletidas em espelhos, vídeos, fotografias... se dissolvem, transformam, deterioram e...frustam. Além de tudo trazem saudade. A saudade é algo ruím porque lembra o que não volta.

Como estaria o rosto? Angustiante. Quando se acompanha o desgaste há uma espécie de solidariedade com a própria decadência. É a vida no escuro. Será mesmo que o tempo é solidário?

No entanto, os cegos sobrevivem. Enxergam sem precisar de espelhos a verdadeira face.

O tempo sem espelhos tem outra dimensão, outra interpretação.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Passado?

Ela acordou perturbada. Sonhou a noite inteira. Sonhos desconexos, insanos. Ao abrir os olhos, olhou em volta e não reconheceu onde estava. Um quarto grande, simples composto por móveis antigos e velhos. Tinha um aparelho embaixo do travesseiro. Olhou, apertou um botão. Que moderno! Pensou. Apareceu um relógio digital: dez horas. Que dia? Segunda-feira. Ano? Dois mil e doze. Era ainda o sonho? Como? Ela tinha dormido no domingo de 1990. Sem querer olha suas mãos: cansadas, com algumas sardas. Suas mãos não eram assim. Eram clarinhas, lisinhas. Era mesmo um sonho. Levantou da cama de casal. Casal? Cadê sua cama no quarto de janela veneziana azul? Cadê a penteadeira com seu perfume preferido, seu pente...Caminhou, viu duas portas.Queria ir ao banheiro no corredor. Por falar nisso, sua avó já devia estar uma arara. Nunca ficava na cama tanto tempo. Será que a avó foi à missa? Mas, na segunda-feira? Onde estava todo mundo? Tomou coragem e abriu uma das portas. Saiu no banheiro. Que banheiro estranho. Não o conhecia. Entrou. O banheiro era um retângulo enorme. Piso marron, revestimento das paredes cor de chá, louça e lavatório marrons. Não conhecia este banheiro. Será que bebeu tanto na festa que foi...Meu Deus! Desde que foi morar com sua avó aos dez anos de idade nunca tinha dormido na casa de estranhos. Mas aos vinte e seis anos!
Ah, tinha um espelho. Aproximou, ficou em frente. Viu uma imagem de uma mulher de uns quarenta e tantos anos. Estou sonhando? É a minha mãe. O que a minha mãe está fazendo no meu reflexo do espelho?Olhou de novo. Tudo o que ela fazia a suposta mãe repetia. Ela percebeu então que aquela mulher era ela. De repente ouve uma voz dizer "Mãe"... E uma adolescente aparecer e abrir a porta do banheiro. "Oi, mãe. Bom dia!" Mãe?? Só tenho vinte e seis anos! Esta garota tem mais ou menos quinze anos. Eu, eu... É um sonho, calma! Vó, vó. Cadê a minha vó? Que isto, mãe? Tá doida? Quem é você, por que me chama de mãe? Credo, minha mãe pirou, vou chamar meu pai.

Apareceu um senhor aparentando mais de quarenta anos, alto, forte. Ele inspirava seriedade.Olhou para ela sem entender e disse: "Que confusão é esta?" A menina disse que a mãe tava diferente. Parecia o gato quando estranhava alguém. Ele chegou perto da mulher e ela se esquivou. Ele sem entender tentou abraçá-la, ela se soltou do abraço. Apareceu outra moça, esta tinha aparência adulta. Olhou pra mulher e disse: "Para com isso, mãe. Não tem graça". Mas ela também não via graça nenhuma nessa cena porque não lembrava daquelas pessoas nem daquele lugar. Se desesperou. Se sentiu sozinha, queria ver as pessoas que conhecia, como sua avó. Vovó sumiu,
seu quarto sumiu, sua vida sumiu. O que via no espelho era um rosto acabado. Ela não conhecia aquelas pessoas.

Aquelas pessoas quando perceberam que ela não os estava reconhecendo, se alarmaram. Ela ficou amuada no quarto com medo de sair. Ali serviram suas refeições. Ali mesmo ela tomava banho. Ela queria voltar e tinha medo que se saísse perderia o momento de acordar daquele pesadelo. O homem chamou uma moça bonita, que tinha um filhinho de dois anos. Ela chegou. O menininho falou: "Oi vovó!" Mas mesmo se consternando não conseguia se lembrar dele.

O homem conseguiu convencê-la que precisaria ir ao médico. Ela depois de muito pensar, resolveu: Por que, não? Foram.

O médico sabia o que seria mesmo sem pedir os exames.

E Maria ficou parada nos vinte seis anos. Aquele que tudo começou e que ficou em sua memória apagando todo o futuro que viria.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Reinício

Encontros vazios
num tempo
sem vento
doce
repúdio

Juras,
injúrias,
palavras amenas
Espera,
tecladas,
mescladas
de poemas

Cabeça, razão,
segredos no chão
e um oco profundo
saciado
de decepção

Tempestade,
nuvem, poeira,
vida ao vento
e o tempo
sacode plumas ,
saudade
movimento

Sabe-se crise,
vira-se
nuances,
rosa

Virada,
reinício
vai valer a pena

Travessia

Trilha
escuro
almas vivas
correm de medo
dos mortos

Olhar parado


Domínio do mundo
correr no escuro
rio sem ponte
águas
poluídas

Saltar

cerca
de arame farpado

Correr agarrados
passos cansados

Chegar
olhar
desconfiado

Abrir porteiras
entrar
num quarto desarrumado

Abrir outra porta
enxergar
ao longe
um cerrado

imaginar leituras
adultério
fugas
esconderijo
galpão
sem reboco

Quem vai me ajudar
montar a vida?
Quem vai me ajudar
voltar à vida?

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Segunda-feira

Sons
música do dia
Sol
Domingo, corredor do abatedor
da semana que se inicia.

Problemas
teoremas, teorias
machadada certeira
nos projetos e
páginas de um livro
de cifras e poesias

Poemas e teoremas
sabendo que cumprem
o objetivo do mesmo
tema

Sons abandonados pelos
sonhos se transformam
em alimento da segunda-feira.

Segunda-feira é o mundo real
e os sons dançam assustados e acabam
mudos