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Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O chamado

Estão chamando. O sono pesa como âncora. A cama é o alvo. Quem chama? Uma coisa. Quer caneta. Quer papel. Abre-se gaveta. No meio da noite. Madrugada. Pode ser algo que receba tinta.

Alívio. De repente caneta aparece. Tem querer. Vida própria. Surge palavras. Pinceladas de tinta. Palavras vêm. Dançam, empurram, enfileiram-se. Desorganizam. Organizam. Pronto. O dono das mãos que seguram os instrumentos não acredita que foi o autor da ordem. Percebe. As palavras têm realmente vida própria. Mandam numa ordem só delas.

O dono das mãos. Psicógrafo? Palavras, estado perfeito e imperfeito da alma. Palavras brotam sedentas, arquejantes, ofegantes de ar. Puro.

E o sono? Já não está acordado o dono das mãos.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Geada

Os dias sempre escuros molham margaridas entusiasmadas.
O fim do dia clareia as ideias revestidas de desencanto.
O amanhecer detona o padecer de acordar.
E a tarde chega vazia, calada , afugentada pelo calor frio.
Quanta molhança embaça o olhar fútil.
Quanta saudade retorna daquele tempo em que os dias eram longos e salientes.
Quanta neblina rodeou a geada de um coração nublado.
E hoje correm dedos sardentos pelos cabelos alvejados pelo branco.
E ontem estes mesmos dedos lisos apalpavam a forte ondas dos cabelos assanhados.
Margaridas despetaladas se misturam aos botões túmidos.
A geada está por vir de novo.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Utopia simplória

Suzana tava pensando "Deveria ter licença para ter filhos. Assim como no trânsito, licença para dirigir. Deveria ser avaliada as condições psicológicas, financeiras da mãe e do pai, sejam biológicos ou adotivos.

Dessa forma, quem sabe, não haveria tantas crianças em orfanatos, ruas, cadeias e psicopatas.

Seria uma espécie de controle da natalidade que diminuiria muito a criminalidade.

O que se vê são mulheres sem noção do perigo que é colocar um ser no mundo sem responsabilidade. Simplesmente parem e deixam seus filhos soltos como animaizinhos aprendendo com o instinto. Sem falar em condições financeiras satisfatórias para uma boa educação, porque o Estado não se preocupa muito com isto não.

E, não adianta informação. A mídia é explícita quanto aos métodos anticoncepcionais.

Esses dias mesmo, no bairro, morreu uma garota de dezesseis anos, vítima da violência. Sabe quem são os pais dela? Um traficante e uma usuária de drogas e alcool. Pense: esses cidadãos tinham condições de ter sob sua responsabilidade uma vida? E se não bastasse, esta menina já tinha um filho e estava grávida.

Mãe e pai sem noção, perigo constante. É como dirigir sem habilitação.

Bom, não é uma questão de ser dona da verdade mas de opinião.

Na prática seria assim: quando a menina menstruasse teria que se alistar no SUS para receber uma vacina? Não, aulas de educação sexual, métodos contraceptivos, conhecimento sobre as doenças sexualmente transmissíveis, estudo sobre como educar uma criança. Enquanto isto receberia uma injeção todos os meses de anticoncepcional, até terminar a adolescência. E só aos vinte e dois anos comprovados e com exames psicológicos adequados, com parceiros fixos e também sanidade mental. Que estivesse trabalhando e não tivesse envolvimento com drogas e alcool. Para o garoto valeria as mesmas considerações das meninas. Tudo documentado. E se infringisse estas leis pagaria as consequencias que seria...Aí, é que está . Como?

Ricos também entrariam nesses critérios? Claro. Deveres iguais.

Só teria um detalhe a ser ajustado nesse projeto louco. Só os ricos é que iriam ter filhos antes dos vinte e dois anos? Não, a Lei seria pra todos.

Simples? Não. É uma utopia simplória. Conversa pra se jogar fora."

Essa Suzana!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Um dia

SEM SABER
COISAS
SALTARAM
BELAS
CONFUSAS
ESPECIAIS

SEM NOÇÃO
SEM CÁLCULOS

E NOITES
TAMBÉM
QUEBRARAM
CASAS
TABUS
E FESTA

PREOCUPAÇÕES
PROVAM
ANSIEDADE
DE VER
UM ABATE

TEORIAS
PRÁTICAS
CANIBAIS
ACIDENTES
COMOVENTES

E A MÚSICA TOCA

TOCA E CUTUCA
A ERA
A BRIGA

E O CORPO
DEBATE
AGONIZA

MAIS UM DIA

domingo, 10 de abril de 2011

Silêncio

Hoje Helena recitou um verso simples de decorar. Um verso curto como a paciência das pessoas que não gostam de ler.

Ela assim o fez numa voz sonolenta:

Ruídos no silêncio
da noite
tiro ou balões?

Helena sabia que versos tem sonoridade mas estava com sono, não conseguia dormir por conta dos ruídos do funk do vizinho e da gritaria:

"Tô ficando atoladinha
Tô ficando atoladinha
Tô..."

Lembrou-se de Tom Zé quando ouviu estes ruídos desinteressantes. E ele viu arte nessa música. Se referia a um desdobramento atual da Bossa Nova. Será que Helena entendeu direito a entrevista no Jô? Entendeu a mensagem? Tava com sono? Ruídos na comunicação roía também a sonoridade dos estouros. Balões ou tiros?

Helena se irritava fácil. Ainda mais nos sábados de faxina e aqueles versos, os da atoladinha, têm som de faxina e sábados mal dormidos:

"Tô ficando atoladinha/ruídos no silêncio"

Nem mesmo a luz da tela do computador, tão atraente, trazia a luz do acordar. Ela queria dormir e o funk da preguiça a fazia acordar. E a Bossa Nova calma cheirava a pão amanhecido, já que o tempo de Helena era curto.

Helena possuía nos olhos rugas. Não só em volta mas dentro também. Sua visão do mundo após ter retraído, dilatou e depois enrugou. Já não via com clareza beleza e cor. Preferia versos curtos, fáceis. E, como sua visão não desenrugava...Nem plástica resolveria. O verso foi ficando curto, curto...

Ruídos
tiro
estouro


De repente Helena queria cortar também palavras:

Ruí
ti
estou

Depois cortar sílabas
Ru
es

Por fim letras
R
e

Helena não conseguia abrir mais os olhos.

E de tudo que não via sobrou um vazio no silêncio.

O tilintar dos ferros no ataúde fez um hiato.

Helena não via.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Quase nada

Vida em ré
relevo de imagem
estatísticas do réu

Escadas e ruas
rolam
alcançam
uma lágrima fácil

Desculpas afligem
regridem uma
força

Segredos e
questões
perplexas

E um dia aponta
e o sol dos
teus olhos
chama:
vamos caminhar!

Suor, força
vaidade
olhar pasmo
olhar calmo
música

Problemas


Vidas opostas
estacionamento
na escada

Quase nada

E a noite termina
com um dia perplexo
no teclado cheio de
letras vazias
como o tempo

Nascer era
florescer,
molhar a flor
molhar o
sábado que vem

Quase nada
Quase nada

E o nada nasceu!