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Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Ogros


Martelo
som da discórdia
do engolir e fixar
o ego no fogo

Vem som
que arde
provoca

desloca
Este som
tá em você
que não se satisfaz

Perfeição
é asco
intocável desejo
de se isolar

Eterno som
de risos móbidos
escuro dos seus olhos

Som que arde a pele
provém de células
rebeldes

Descascar a língua
envolta de lodo
e reaparecer
o absurdo

Absurdo daquilo que
está dentro
arrancando safras
de Belos ogros

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Imperfeita


Luz
Palavra entediante
Porque o belo tudo acende

Encontre uma palavra horrenda
Aquela que ninguem diz
Discriminada
Guardada no porão do inferno

É essa que eu quero

Chocar
chocar um ovo
Que guarda a verdadeira
essência do vir

O vir feio
diferente

Quero a rima sem nexo
A palavra torta
Imperfeita

Saia daí
Se mostre
Você existe

Nasça
Floresça

Quero a palavra feia
escondida
porque o feio fica no porão do
inferno

Sem rima, sem nexo
profundo em nossa essência
A essência do vir

Imperfeita
horrenda
flor marginalizada
Palavras também vivem no subúrbio

domingo, 7 de abril de 2013

Destino


Será?


Que anjos caídos
protegem seres comuns?

Que Salmos acolhem
mesmo os pedidos?

Que  deuses sagrados
voltam os olhos para
tantas atrocidades?

Que a sorte contempla
os que realmente não TEM?

Que o belo floresce
em aparências não moldadas?

Que a oração conforta
seres sem esperança e fé?

Que um coração duro
recupera a leveza e a doçura?

Que lutas e lutas em vão
tingem de rosa os dias de um ser
frustrado?

Mas...


Anjos não caem nem levantam
de lugar algum;

Orações prometem resoluções
depois da morte. Há o depois?

Atrocidades se perpetuam:

Sorte é para os que dela não precisam.

O belo é belo fôrma

A vida é espera

do que virá comprovadamente

confortar os desesperados.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Crediário


Sábado. Sol. Cedo. Roupa nova, tamanco, bolsa recheada: título, CPF, Carteira de Identidade antiga, Contra-cheque. E nenhum dinheiro. Orgulho do nome limpo no SPC. Pobre só tem o nome. Tem que zelar.
Na loja muitas geladeiras: duplex com degelo automático, inox, Consul, Eletrolux.
A família estaciona seu carrinho Fiat Prêmio bege. Desce o motorista: barba sem fazer, grisalha, cabelos revoltos pelo vento. Desconfiado fica de longe. Desce o cunhado, de tênis vermelho, bermuda e camiseta estampada de gola polo. Cabelos arrepiados, serelepe, quer trocar o celular por um com câmera. Tem um cartão de crédito do Novo Mundo. Desce uma menina de unha encravada do pé, cabelos armados presos com presilha escondendo uma franja que não deu certo. A mulher desce irritada, preocupada, ansiosa e feliz. Olha as geladeiras da porta, compara o preço de uma, de outra.
Vão todos em outra loja fazer pesquisa, o marido reclama. Quer comprar na primeira loja. Se zanga, diz que vai esperar na lanchonete ao lado.
A mulher anda, vai lá, vem cá e todo mundo atrás dela reclamando.
Vai na loja que o irmão tem cartão.Ele propõe comprar a geladeira com o cartão dele.
O vendedor não vem, não convém. A trupe é pé-de-chinelo. Tinha razão.
O irmão entrega-lhe o cartão: o limite não dá. Todos cabisbaixos voltam a outra loja.
O vendedor vem, pega os documentos da mulher, vamos
ver se o limite dá.
Sentam-se o homem, a mulher, a menina . O vendedor refaz o cadastro. O irmão vai na outra loja comprar o celular. O vendedor diz"Compra aqui". O irmão responde:"O celular daqui não presta".
O marido diz que se o limite da mulher não der, completa com o dele. O vendedor concorda. Faz ficha do marido, computador demorado!
Leva pro crediário.
Chamam o marido:"Não tem como comprovar renda, não tem ninguém lá na firma onde trabalha.
Chamam a mulher:"O limite não dá". Tem que dar entrada. Entrada não dá.
Voltam todos sem graça para o carro. Vem o irmão correndo da outra loja.
Entram todos no carro e voltam pra casa sem a geladeira nova, mas o irmão que não tinha como comprovar renda volta com o celular com câmera.
Será que foi a falta de barbear, de desencravar a unha, arrumar o cabelo?Mas não foi. O irmão não tava lá essas coisas.
Todos ficam confusos, frustrados. Mas a aparência conta na hora de abrir crediário.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Um resto

Ela tava esperando. Olhar cansado. Olhava desanimada para as mãos. Passava o olhar para os pés. Sentada debaixo de um grande e velho eucalipto num desses bancos de praça. Mas não era praça onde ela estava. Ela estava aguardando notícias do único irmão que estava internado no hospital da universidade federal.

Pensava...O que se sujeitava uma pessoa desprovida de dinheiro? Se doava como cobaia para jovens estudantes de medicina. Da outra vez o irmão tinha operado um dos rins para a retirada de uma montanha de cálculos e quase não resistira. Tiveram que interromper. Hemorragia, paradas cardíacas fizeram jovens médicos estudantes experimentarem a adrenalina. O irmão? Ali... Ela lá a olhar para as mãos, pés. Pessoas passavam pra lá pra cá. Bolsas de sangue. Correria mas ela tava lá fora debaixo de um velho e grande eucalipto às oito horas. Num dia de sol e a ponta de um edifício rosa salmão com branco creme em cima numa falha do eucalipto. Na janela ? Nada. Queria estar ali. Naquele charmoso edifício, charmoso apartamento. Mas não. Tava no pátio do prédio do hospital público que fazia cirurgia grátis.

Pensava... Seu  irmão ia repetir a mesma e intensa experiência de se dar em cobaia para mais um corajoso jovem médico. E dessa vez foi com medo como uma criança que ia tomar injeção. Mas foi. Não tinha opção. Nem plano de saúde.

Lá vinha uma notícia. Era o primo médico. Achava ele tão bonito. Tão camarada. Quase um pequeno Deus. O olhar doce. Guerreiro. Desde criança se destacava em equilíbrio e sensatez. Era de estatura mésia. Miúdo. Charmoso.

Um olá, um abraço terno, longo e as notícias.

Olhar cansado, angústia. De repente uma ratazana cruza o jardim. Para bem na frente bem devagar e cata um resto de comida...