Ela sabe que cada dia não volta mas passa. Passa, saboreia, se esperneia e quando cai balança o pó da queda. Tropeça, não cai. Olha para os lados, finge que o pé torcido não doi, tenta caminhar normalmente. A dor é forte. Disfarça. Não é dessa vez que tornará público seu choro.
Aquela música em inglês ela acha que é pra ela. Também tanto faz, não conhece o idioma. E o nariz e o queixo arrebitado também não são dela. É daquela mulher forte que veio de outro lugar. Quem? A do espelho. Quer ser ela. Qual? Atriz de novela? Escritora? Sim, talvez Clarice Lispector, Lya Luft, sabe lá!
Mas sabe o que ela é? Invejosa? Admiradora? Frustrada? Louca? É tudo isto junto e ainda: cobra. Despe peles. No entanto, por dentro é um ser...esquisito? Indecifrável, sem personalidade ou com várias. Qual delas é ela? Uma pele é de cobra chorona, a outra é de um ser duro, oco, calado. Mas chora em palestra ecológica. Se gaba de ser ética!
Ela, depois de tudo isso ainda tem sonhos esquisitos como ganhar na loteria e comprar todos os livros, (sonho é sonho), e dormir entre eles. É claro que depois de lê-los. E que montanha! Pode ser os bons e os ruins e junto deles também poderiam vir as bulas de remédio e os manuais de instruções. Mas os didáticos não. Ama as letras. Não pelo que simbolizam mas pelo poder que emitem.
Esse amor pelas letras a deixa muito triste às vezes por causa da inveja: a colorida. Pensa que melhor ser uma simples leitora e deixar aos Deuses sábios os poderes de encantar e seduzir invejosos como ela.
Despir peles é o que a torna menos insignificante, frágil,simples. Ela pode ser o que quiser. A do espelho(autora, escritora...).
