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Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

domingo, 29 de setembro de 2013

Volta

Voz,
vazio
vácuo

Vida
vinha
vento

veste
veleiro
vela

Viagem
volta
vista

Visita

sábado, 7 de setembro de 2013

É tarde

Maria Rita acordou meio diferente. Estava com uma vontade de viver. Não sabia o porque. Pensou que fosse maluquice, distúrbio hormonal ou coisa assim. Afinal a rotina diária como acordar cedo sempre a incomodava. Ainda na cama, abria os grandes olhos negros, olhava pro marido que ressonava. Olhava para o quarto escuro de janela fechada e via fiapos de luz do sol.

Naquele dia não ouviu o cantar dos passarinhos na mangueira, latidos de cachorros e batuques na cozinha da vizinha.

Esfregou os olhos que não queriam abrir. Gostava de acordar tarde porque dormia tarde mas neste dia queria aproveitar o dia, no entanto aquela vontade de viver deslocou uma vontade de amar, de tocar aquele homem. Observou seu perfil ao lado, de um ângulo que gostava, o direito. Ele tinha um nariz anguloso, másculo. Os traços do nariz eram marcas de sua personalidade: homem bem resolvido, de atitude e ao mesmo tempo terno. Agora olhando seus olhos fechados lembrava daquele olhar doce, preocupado. Percebeu que nunca tinha lhe dito isto. A boca era bem feita, sorridente e os dentes tinham harmonia. Lembrou do som de sua risada escandalosa, brincando com ela, quando não queria amar. Do seu jeito autêntico que não tava nem aí para que os outros pensassem quando não entendia de arte, literatura e todos os apetrechos de um cidadão preparado para argumentar. Ele era simples e livre como um cavalo solto. Sabia o que queria. Ele era um homem bom e ainda por cima honesto e bonito. Maria Rita se sentia feliz . Não sabia e não percebia. Só naquele dia.

Ela sabia que felicidade não podia ser comentada, espalhando, fazendo propaganda porque tinha medo de acordar e em sua vida toda até um pouco antes quando se sentia feliz vinha logo a seguir uma infelicidade. Sempre vinha o contrário. Tinha medo dos contrários. Por isto sempre dizia não quando queria dizer sim. E sempre dizia sim quando queria dizer não. Era um modo de driblar o que não queria.

Nesse dia percebeu que seu marido não a quis como em quase todas as manhãs. Olhou direito. Olhou de novo. Piscou os olhos. Já não via o mesmo de quando abriu os grandes olhos negros. E só passara alguns minutos. Será o que houve? Não era ele? Não era seu quarto? Cadê os sons que povoavam seu dia-a-dia? Os cachorros latindo? Os pássaros cantando? O batuque na cozinha da vizinha?E aquela preocupação dos afazeres da casa? E a irritação da bagunça dos cachorros?Das formigas que devoravam suas rosas?

O silêncio propagou ondas.
Ela quis viver, fazer o habitual café, ir à padaria, chegar. Sentar com as filhas e tomar o café, comentar coisas fúteis, dar biscoito aos cachorros, despachar o marido para o trabalho, cheirar a rosa, pensar na vida.

Olhou para o marido de novo. Resolveu levantar-se. Foi até a porta e estava trancada sem a chave. Pensou: Tudo certo, ele trancou porque estava com ´"má intenção". Mas tenho que acordá-lo, preciso ir ao banheiro. Voltou, tocou nele. Chamou seu nome. E nada! Meu Deus, será que... Ele tossiu. Ai que alívio - pensou. Mas que sono pesado é este? Foi até a porta de novo. Lembrou do filme ghost e pensou: Se eu fosse um espírito passaria por esta porta. Tentou brincando...
Ela passou. Sua mente explodiu em um susto. Que isto? Estou dormindo? Quero acordar! Passou de volta para o quarto, olhou na cama. Lá estava. Uma mulher abraçada, em forma de conchinha, ao seu marido, dormindo. Não reconheceu aquela mulher. Chegou perto, bem perto. Parecia um retrato seu. Ela não respirava. Jesus, Maria, José...Era ela.

E não pensar e pensar, aceitar e não aceitar, em rir e chorar (as emoções ao contrário) percebeu e não percebeu, compreendeu e não compreendeu: era feliz naquele dia , mas não fez o jogo dos contrários.

domingo, 1 de setembro de 2013

Silenciosa alma

Silêncio!

Durma
os sonhos

Sonhe com
o silêncio

música gregoriana

alguém
te espera agoniado

mas a agonia
vem da falta
das palavras
que o silêncio
povoou

Silêncio

música gregoriana vigorosa

sonâmbula
nudez de palavras

Vem ,vem

sono
vem sonâmbula
magia

vozes de enterros
de tudo que
se sonhou

serena melodia

e o dia está

despontando

no velório
dos sonhos

catástrofes
bombeiros
tentam resgatar
restos

mortos

já enterrados
sem velório

tristeza viver
sem acreditar
em algo

A esperança
também estava
nos destroços



 

Era

Nunca diga

Diga

O sol entre flores
invade a

escuridão
de tulipas incolores

O sol vem
abdicar raios
coloridos

em dezenas
 de margaridas
compostas
de silêncio

perdidos

vácuo

laranja é
a cor que invade
o horizonte à
tarde

mas lilás
é a cor dos olhos
sem crença

vácuo

vazias horas

perdidas

túnel iluminado

sons de uma
nova

era...

Por quê?