Invisível

Olhe
mulher
sua fotografia

É você?

Quantas de você
pisou neste quintal?
Quantas de você
fez o almoço?
Quantas de você
carregou água
para molhar a rosa?

Quantas de você
alimentou o cachorro
abdicou das férias
para aparar a grama?

Olhe
mulher
sua fotografia
no jardim
que você cultivou
pensando na mocinha da novela
que foi à feira comprar kiwi
mas você comprou bananas

A casa não era de areia
nem de cera
E você preferiu
regar a rosa
ligar o modem
ponte pro
outro mundo

Ei, você, mulher
não tô te vendo
na fotografia

Quantas de você
desapareceram no tempo

Olhe seu rosto
sulcos em volta
dos seus olhos
cobrem flores e pétalas
abrem rios para as lágrimas

Cadê você mulher?

Conceitos?

Sem
controle
contravenção
construção de criança

Aparece e destroi
conceitos
preceitos

Edifícios
números ordinais
fora de ordem

Retângulos
desmedidos
A hipotenusa no
círculo
que circula o triângulo

A linguagem sem
signo
e o signo sem
palavras

O perfume que não cheira
o cheiro sem o perfume

A história que não bate
a régua torta

A cama sem colchão
o colchão que remexe
A Lua habitada e
A Terra deserta

O leão com medo do coelho
A professora amarrada
torturada pelos alunos

A notícia vinda do nada
e o nada procurando a notícia

Coisas e ideias
Ideias vindas das coisas
Não entram em acordo

Ir e vir
Vir e ir

Mesma sabedoria eterna
satisfatória
que reduz a vida

no
ter
ser
entender
praticar

Vamos baratinar?
Profanar
se permitir transviar

Fluir
instalar o dilema?

Frieza

Sou pena de um pássaro velho
levada pela brisa!

Meu pensamento anda encontrando
fronteiras para sonhar...

Anestesiei sonhos!
Nem a música anima mais!

A velha paisagem tomou parte
do cristalino refletindo para fora...

O calor das suas mãos não sinto
As minhas quietaram exaustas da busca
inútil das suas

E o tédio das mesmas palavras
esgotou o cheiro do botão de rosa
abortado com os anos que se passaram!

Incoerente é o não

Fácil
na madrugada

Expor

saudade
tédio
amanhecer
ensolarado

enovelar
palavras
criar
coerências
insatisfeitas

enredar
diálogos
análogos
perspicazes
solitários
plágios

Rimar
a vida
com
espera

Satisfazer
egos

E lá vem
questões
sugestões
vagas

Insônia
espera,
relógio
dias curtos

E o tempo
palavra
frequente

Mas ele
não repete

Deixa marcas
apaga
o choro

Refaz
desfaz

Comanda
a lágrima
induz
o futuro

Mas não
promete
não reverte
não...

Não
Esta é a
última palavra...

Não...