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Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

sexta-feira, 20 de julho de 2012

E os outros?

Esse mundo não muda mesmo. Principalmente delicadezas aprendidas e passadas de pais para filhos. Palavras, gestos, respeito ao simples direito de sobreviver em sociedade. Regras de convivência são  úteis e imprescindíveis para o respeito ao cidadão, seja em qualquer condição social. Esse mundo não muda .Pensando bem, muda, mas para  pior. Regride aos tempos do homem da caverna onde o que importa é a lei do mais forte. E hoje o mais forte , seja o de "melhor" condição social ou o físicamente robusto, ou o que tem uma língua mais afiada, se destaca e consegue o que quer.

Explicando melhor vamos ao ponto.Sabe aquelas palavrinhas que as professoras chamam de "mágicas"? Pois é,
são mágicas mesmo. Estão em extinção. As pessoas já chegam mesmo é ordenando e xingando . No ônibus já começa antes da entrada a falta de delicadeza. As regras de formarem filas não são obedecidas e quando alguém por conta de fiscais obedece, vem outro e se instala bem na sua frente com jeitinho despercebido. Vai alertá-lo pra ver. E toma logo um amontoado de palavrões e talvez até uns safanões. Entra a lei do mais forte, aquele que tem a língua como arma e o corpo como escudo. E os outros? Ficam murchos, acanhados a espera de um outro ainda mais forte, seja de que forma for para acudi-lo.

Quanto ao mais forte em condições sociais, se revelam os que tem mais dinheiro ou os que se aliam a estes principalmente no poder político. Todos os dias a mídia os apresenta à sociedade. Eles tém o dom das palavras "mágicas" em todos os sentidos e as usam num engodo gentil que amansa até os do poder dos palavrões , da língua afiada e do corpo como escudo.

Um exemplo bem apropriado foi na fila da espera de ônibus no terminal. Este exemplo é bem popular para a maioria da população que não tem muito dinheiro nem poder político nem aliança a este. Mas tem língua afiada, corpo como escudo e cabeça de touro, coitado do touro. Não sei se é uma comparação boa. Mas, não usam a cabeça para viver na cidade mas para viver no mato onde habita animais . Não obedecem regras de convivência. Direitos, deveres não andam em equilíbrio. Confundem e acham que os direitos só existem pra eles. E os outros?  Bem, às dezesseis horas, num dia comum, pessoas desembarcam de ônibus vindos do centro da cidade para o terminal onde saem ônibus para periferia. Desembarcam pessoas cansadas de todas as idades possíveis de se locomover de forma natural ou não. São crianças, desde as no colo, cadeirantes, idosos, gestantes, gordas, magras, educadas, mal educadas, mal humoradas , bem humoradas. Vindas do trabalho de diarista, bancárias, garçonetes, vendedores de carros(veja a ironia). Enfim, profissões "leves" ou mais pesadas mas todos loucos pra chegarem em suas casas. Foram tomando seus lugares na fila.

A fila do ônibus estava grande. No primeiro lugar um senhor idoso que mesmo tendo bancos reservados a ele mesmo assim estava na fila, uma grávida em terceiro lugar e assim por diante foi chegando umas quarenta pessoas. Cansadas. As que estavam até no vigésimo lugar contou e percebeu que finalmente ia sentada. Seus pés num salto num dia cansativo e em pé finalmente iam se aliviar. O ônibus estava quase chegando. De repente ouve-se uma gritaria  "Biiia, corre!" "O que, mãe?"  "Vem!". E Bia, uma adolescente, de salto fino mal se sustentando e desajeitada. A mãe, uma obesa mórbida, mais ou menos duzentos quilos empurrava o velhinho , primeiro da fila. A menina aprendeu na escola que não podia furar fila e argumentava com a mãe mas ela nem ouvia. O povo, não se sabe porque tava calado. Eles não sabiam quem tinha razão já que a mulher era obesa. Talvez fosse lei, obesos serem os primeiros, visto pela pouca mobilidade. Mas o fiscal viu o ônibus aparecendo e só nesta hora opinou e ordenou que ela fosse para o final da fila. Péssima hora.O ônibus parou bem no rumo da gorda que gritava. E entupiu a porta . Foi a primeira a entrar, derrubando o velhinho que na confusão foi pisoteado várias vezes. Alguém teve pena e parou a fila e levantou o velhinho que por milagre machucou pouco. A Menina?

A menina foi pro final da fila, se não seria linchada. O velhinho? Foi em pé. Ficou constrangido pelo comentário de uma senhora que dizia que velho tem de ir em pé porque tava descansado já que era aposentado e vinha do forró. A gorda ocupou dois lugares e ainda guardou um lugar pra filha .Aquela que pensou que ia sentada para aliviar os pés...amargou mais quarenta minutos em pé, coitada. A grávida? Esta usou a língua afiada. O cadeirante, sorte dele, foi sentado.

E aí? Quem foi o mais forte? E os outros?

terça-feira, 3 de julho de 2012

O ciclo



Páginas repintadas

num brejo escorregadio

em dia de chuva




e o lodo entardeceu

uma chuva

de lágrimas




revoltadas

magoadas

saldosas

lembranças




no lodo

no barranco

despencando




angústia

amargas

palavras

cenas

esquecidas




pelo evaporar

do tempo




que em um ciclo

retorna

molha

e se esvai

pelas fendas

da memória