Postagem em destaque

Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

sábado, 23 de março de 2013

Maria das Dores

Lia a vida Maria das Dores
e pensava

Pensava longe
Longe estava

Estava deprimida
deprimida chorava

Chorava por tudo e por nada
Nada era o que sentia

Sentia um vazio
vazio de opções

Opções fracionadas
fracionadas estavam suas escolhas

Escolhas perdidas pelo tempo de vida
vida
Maria das Dores
lia

sexta-feira, 22 de março de 2013

Uma história

Peguei o ônibus e lá estava Maria,  prima do meu marido. Pensei: Ela tá na pior mesmo. Andando de ônibus? Maria hoje anda de ônibus mas em outras épocas trocava de carro todos os anos. Tinha supermercado, loja de roupa infantil e uma sofisticada chácara. Seus filhos: uma menina e um menino(moços) foram pra Brasília estudar medicina  em uma faculdade particular. Os dois. Mas por conta de uma pendenga de família quebraram. Pensa que Maria tirou seus filhos da faculdade? Não. Ela vendeu o resto  das coisas que sobraram, colocou no banco o dinheiro e custeia as faculdades dos filhos. Tem uma ajudinha do FIES para um dos filhos. E conta com recursos da fábrica de linguiça artesanal que ela mesma põe a mão na massa.Eles?...

Este relato não é sobre as dificuldades de Maria. É sobre Maria. Maria Lúcia. Eu. A narradora frustrada.

Bom. Naquele dia que peguei o ônibus eu perdi a hora do ponto que ia descer. Desci em outro, próximo. Desci em frente ao Supermercado Rapidão. É bem longe de casa. Desci e subi uma rua. Tava escuro. Minhas pernas, não sei porque bambearam. Caí. A rua tava deserta. Ninguém me socorreu. Me levantei e não sei quanto tempo fiquei ali. Continuei andar com dificuldade. Quando cheguei em casa. Na área. Tava aberto o portão. Esquisito! Entrei e vi que faltava coisas. Havia sido roubada. E na mesma hora parava um carro com uma carretinha. Dava a entender que tinha voltado para buscar mais. O motorista me viu. Saiu em disparada. Corri pra ver a placa da carretinha. Não vi mas fingi que via. Nessa hora, nem deu tempo de pensar onde estavam minhas filhas, apareceu um homem de estatura média, cabelos anelados castanhos. Olhar ríspido, sério e apontou um revólver prateado em minha direção. Pedi clemência. Não precisava, não tinha gravado a placa da carretinha. Ele ignorou. Disparou dois tiros no meu abdome.

Senti um ardume e uma coisa estourar dentro de mim. Sufoquei com um líquido grosso que jorrava de minha boca. Percebi que era sangue. Era um gosto meio salgado, meio doce. Não aguentei. Caí. Vi de relance o homem correr. Fiquei caída mas continuava pensar. Tentava gritar mas não saía a voz. Pensava que tinha que tentar levantar e pedir ajuda na casa da minha cunhada em frente. Consegui me arrastar. Bati no portão. Minha sogra saíu. Nem me viu. Saí arrasada. Fui até à farmácia na outra esquina. Me viram. Pedi ajuda. Chamaram o SAMU. Enquanto isto desfaleci. Acordei dentro da ambulância ouvindo  a conversa de duas enfermeiras sobre o que iam fazer no final de semana. Mas em vez de me levarem para o hospital , me jogaram em um lugar que parecia um bar. Que agonia, meu Deus. Eu tava morrendo. Acho que já tinha morrido. Estava confusa. Não sei se levantei ou se foi alucinação mas dei de cara com o rapaz que tinha atirado em mim. Ele se assustou. Gostei e ameacei entregá-lo.

Acordei. Meu gato roçou a grande e peluda cauda no meu nariz. Olhei no celular. Hora de levantar. Estou mesmo viva?

quinta-feira, 21 de março de 2013

Sorte?

Não ganhei "Meu coração desnudado". Que pena! Já imaginava. 

quarta-feira, 20 de março de 2013

Ensolarar

Cansaço. Mês de março . Chuva no dia de São José, chuva no dia seguinte também. Chuva no pé, chuva no olhar. Vidros de janelas embaçados. Embaçadas ideias. E lá fora o pingar do eco vindo da memória. Sonolência, cochilo no sofá. E o alerta da campainha "Vamos trabalhar !" Cara amassada, enfezada e uma constatação "Pobre quando morrer não precisa passar pelo inferno, é na Terra seu pagamento de contas".

Eh, José! Vamos á luta! Que chegue logo a noite pra dormir. Mas passa tão rápido! E bem na hora boa daquele sonho o celular desperta. E o longo dia começa. Sem expectativa, sem novidade boa. É claro que a borracha da panela de pressão grudou na chama do fogão, o rodo quebrou , o vento bateu a janela e o vidro também quebrou. Aquela velha poesia que não se adapta ao cotidiano, evaporou. No lugar dela uma colher de pau. As duas não se dão bem e a gramática perdeu seu lugar. Agora vem frases curtas, sem coesão. Exaustas.

Aqueles livros, um, dois...três... não deu pra terminar de ler. Cansaço. Mesmo assim ficam na penteadeira como na estante de uma biblioteca. Enfeitam. Têm capas bonitas. Instigam melhor que os vidros de perfume ou batons. Cada um ostenta o que gosta. O difícil é achar um que goste. Mesmo porque o tempo não permite.

Acabou. Tênis molhado na varanda. Olhos pesados. Angústia...palavra velha que não muda . E o vazio corrompe o medo , o desejo de ensolarar um novo dia.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Vou ler

[88]
Somos a cada momento, atropelados pela ideia e pela sensação do tempo. E só há dois meios de escapar desse pesadelo, de esquecê-lo: o prazer e o trabalho. O prazer nos consome. O trabalho nos fortifica. Escolhamos.
Quanto mais nos servimos de um desses meios, mais o outro nos inspira repugnância.
Só podemos esquecer o tempo se o utilizamos.
Nada se faz senão pouco a pouco.
Charles Baudelaire. Meu Coração Desnudado. Editora Autêntica, p. 82

segunda-feira, 4 de março de 2013

O tempo voou

Vou esperar
cada LUZ do luar
no FRESCOR das
violetas BRANCAS

Buscar
um COLIBRI
abrir
AS ASAS em cima
de mim

ACORRENTAR
as lembranças
no sujo do batom

E CONFEITAR
o mistério desvendado
que foi EMBORA

E a meia noite
buscar
O TEMPO
que voou