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Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

sexta-feira, 22 de março de 2013

Uma história

Peguei o ônibus e lá estava Maria,  prima do meu marido. Pensei: Ela tá na pior mesmo. Andando de ônibus? Maria hoje anda de ônibus mas em outras épocas trocava de carro todos os anos. Tinha supermercado, loja de roupa infantil e uma sofisticada chácara. Seus filhos: uma menina e um menino(moços) foram pra Brasília estudar medicina  em uma faculdade particular. Os dois. Mas por conta de uma pendenga de família quebraram. Pensa que Maria tirou seus filhos da faculdade? Não. Ela vendeu o resto  das coisas que sobraram, colocou no banco o dinheiro e custeia as faculdades dos filhos. Tem uma ajudinha do FIES para um dos filhos. E conta com recursos da fábrica de linguiça artesanal que ela mesma põe a mão na massa.Eles?...

Este relato não é sobre as dificuldades de Maria. É sobre Maria. Maria Lúcia. Eu. A narradora frustrada.

Bom. Naquele dia que peguei o ônibus eu perdi a hora do ponto que ia descer. Desci em outro, próximo. Desci em frente ao Supermercado Rapidão. É bem longe de casa. Desci e subi uma rua. Tava escuro. Minhas pernas, não sei porque bambearam. Caí. A rua tava deserta. Ninguém me socorreu. Me levantei e não sei quanto tempo fiquei ali. Continuei andar com dificuldade. Quando cheguei em casa. Na área. Tava aberto o portão. Esquisito! Entrei e vi que faltava coisas. Havia sido roubada. E na mesma hora parava um carro com uma carretinha. Dava a entender que tinha voltado para buscar mais. O motorista me viu. Saiu em disparada. Corri pra ver a placa da carretinha. Não vi mas fingi que via. Nessa hora, nem deu tempo de pensar onde estavam minhas filhas, apareceu um homem de estatura média, cabelos anelados castanhos. Olhar ríspido, sério e apontou um revólver prateado em minha direção. Pedi clemência. Não precisava, não tinha gravado a placa da carretinha. Ele ignorou. Disparou dois tiros no meu abdome.

Senti um ardume e uma coisa estourar dentro de mim. Sufoquei com um líquido grosso que jorrava de minha boca. Percebi que era sangue. Era um gosto meio salgado, meio doce. Não aguentei. Caí. Vi de relance o homem correr. Fiquei caída mas continuava pensar. Tentava gritar mas não saía a voz. Pensava que tinha que tentar levantar e pedir ajuda na casa da minha cunhada em frente. Consegui me arrastar. Bati no portão. Minha sogra saíu. Nem me viu. Saí arrasada. Fui até à farmácia na outra esquina. Me viram. Pedi ajuda. Chamaram o SAMU. Enquanto isto desfaleci. Acordei dentro da ambulância ouvindo  a conversa de duas enfermeiras sobre o que iam fazer no final de semana. Mas em vez de me levarem para o hospital , me jogaram em um lugar que parecia um bar. Que agonia, meu Deus. Eu tava morrendo. Acho que já tinha morrido. Estava confusa. Não sei se levantei ou se foi alucinação mas dei de cara com o rapaz que tinha atirado em mim. Ele se assustou. Gostei e ameacei entregá-lo.

Acordei. Meu gato roçou a grande e peluda cauda no meu nariz. Olhei no celular. Hora de levantar. Estou mesmo viva?

Um comentário:

Íthalo Iankel disse...

Menina, fiquei tenso lendo essa história. Hahaha, muito boa a postagem ! :)