Sossego

Ai como eu queria
ser pedra
na beirada de um rio
sob o sol receber calor
sob a lua o frescor
quetinha, cansada de
não sei o que

Queria me transformar
em leãozinho invisível
de predadores e caçadores
e aproveitar o mato quentinho

Depois renascer num indiozinho
feliz de penacho na cabeça
a correr pelos campos
em pura liberdade

Mas no fim queria ser
um anjo a espiar o protegido
de cima de uma nuvem
sobrevoar casas antigas
e tomar posse de um
jardim florido

O sonho, cadê?

Um oco
ocupado
pelo apagado
do teclado

Um vazio
entrevistado
pelo frio

uma descrença
calada
e machucada

Um despertar
precipitado
pela demora

E o silêncio
sonolento
pelo oco
pelo vazio
pela descrença
pelo despertar

Matou os sonhos