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Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Espelhos

Vitor Hugo pensou sobre espelhos e lembrou de um poema de Mario Quintana "Nos salões dos sonhos não há espelhos." Também pensou num verbo que não tinha nada a ver, o verbo haver.

Vitor Hugo é um sujeito que se dá bem com espelhos. Pensou em como uma pessoa viveria sem espelhos. Principalmente no banheiro de manhã para ver o primeiro sorriso falso, nem que fosse o seu. Ganhar um sorriso falso era melhor do que nada. Até conversava com sua imagem. Contava-lhe seus planos, já que os considerava enfadonhos e mormacentos. Brigava, discutia com sua imagem. De vez em quando soltava uns palavrões que eram repreendidos ali mesmo. Mas era por causa das olheiras.

Maria do Carmo já era diferente. Não tolerava espelhos. Virava sempre as costas pra eles. Não queria conversa. Eles viviam chamando para uma conversa franca mas ela não suportava franqueza, achava falta de educação.

Vitor Hugo e Maria do Carmo pensavam sobre espelhos, salões e sonhos. Também sobre o verbo haver. Os dois não se olhavam mais. Não sabiam das olheiras de cada um. O espelho cumprimentava Vitor Hugo mas Maria do Carmo...Ela não gostava do espelho que cumprimentava Vitor Hugo. O achava falso com sua franqueza.

Vitor Hugo queria mais espelhos. Maria do Carmo ameaçou ir embora. Nem queria intimidade. Mas os espelhos a perseguiam em toda parte. No Cabeleireiro, nas vitrines de lojas, no provador de roupas...

Com o tempo Maria do Carmo não precisava mais de espelhos. Vitor Hugo era seu espelho. Pensou no poema que fala de sonhos e espelhos. O espelho mostra uma imagem sem disfarces. Disfarces não cobriam seu olhar. Mas era feliz sem se ver. Porque construía o que bem entendesse de sua imagem. O que pensavam dela? Ela era...