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Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

domingo, 10 de novembro de 2013

Escolhas

E o Deig ficou pra trás.
O caminhão de frete chegou para carregar a mudança. Tralha de pobre cheirando a baratas. Dona Maria, tímida, carregava a caixa de panelas. Não tinha muitas coisas. Só uma prateleira velha, um fogão de segunda mão, uma mesa com quatro cadeiras, uma máquina de costura, um guarda-roupa velho, uma cama de casal e uma de solteiro. Mas dava um trabalho carregar móveis velhos porque eram frágeis. Ajudando na mudança estavam o motorista, duas crianças e seu João, marido de Dona maria.

Naquele momento seu João e o motorista carregavam o guarda-roupa . Deig ia latindo atrás do motorista, que já estava se zangando. Junto com o cachorro, uma mistura de vira latas com perdigueiro, duas crianças carregavam seus brinquedos(bonecas velhas, carrinhos sem as rodas e panelas sem as tampas)numa caixa de papelão.

No coração de Dona maria batia uma contrariedade doída de ter que deixar seu barracão, construído com tanta dificuldade. No peito de seu João batia a esperança de melhor trabalho e na alma das crianças só farra mas no olhar de Deig batia o pressentimento de que nos planos daquela família não haveria lugar pra ele. E, de repente ele deixou de atormentar o motorista e se aquietou enroladinho debaixo de uma sombra de um pé de manga. Ele tinha razão. Ele não iria com a família. A família ia mudar de cidade e na nova casa o quintal era aberto e Deig era valente, criador de caso. Não podia ficar solto. Amarrado? Era contra os princípios de Dona Maria. O cão então seria doado ao irmão de seu João, que viria buscá-lo depois.

E naquele vai pra lá e vem pra cá, do barracão para o caminhão, Deig ficava acompanhando só com aqueles olhos decepcionados como se adivinhasse o seu destino.

Dona Maria percebeu a tristeza do cão e seu coração ficava mais apertado. Lembrou do dia que aquele bichinho peludinho, pequenininho e redondinho chegou em sua casa. Ele foi dado pela vizinha, que toda orgulhosa dizia que era mestiço de perdigueiro. Ele chorava muito a noite como todo filhotinho de cão desmamado à força. Dona Maria não perdia a paciência como toda mulher apaixonada por bichinho e levantava várias vezes para aconchegá-lo na caixinha de papelão e dava um leitinho quentinho numa vasilhinha reciclada de marmelada. Ele ficava lá fora debaixo do jirau. Dentro de casa fazia a maior sujeira. Seu João sem paciência, dizia que iria soltá-lo bem longe, não aguentava o choramingar do cãozinho à noite toda, afinal, precisava dormir , tinha que levantar cedo pra trabalhar. O cão cresceu, ficou enorme, valente mas dócil com a família.

As crianças amavam aquele bichinho. Ele adorava as crianças e Dona maria amava os quatro. Conta estranha: contava com o Seu João também. Seu joão fazia de durão mas tinha respeito pelo cachorro. Gostava dele.

Tinham carregado a mudança, fechado as portas, é hora de entrarem no caminhão: seu João na carroceria, junto com a mudança, Dona Maria na cabine junto com as crianças e o motorista. O cachorro lá fora. Choramingava, latia e pulava no caminhão sem alcançar. Voltou assustado com a partida do motor. Triste, cabisbaixo, sentou-se e ficou olhando o caminhão sair devagarinho. Depois o caminhão foi aumentando a velocidade e Deig foi ficando pra trás miudinho, miudinho até desaparecer.

UM COMENTÁRIO:

Fn disse...
Como se diz hoje em dia: "Eita... que aperto no peito." Que texto bem conduzido, Lu. Muito bom mesmo. Parece que as pessoas vão para uma vida melhor, mas sem uma parte desse melhor, que irá guardado como lembrança, saudade, tristeza... essas coisas que cachorros e homens sentimos do mesmo jeito.
f

sábado, 9 de novembro de 2013

A idade dos erros

Tem fases na vida que são diferentes e nomeamos estas fases conforme suas características. Então nascemos e até mais ou menos doze anos passamos pela infância e depois até mais ou menos vinte anos somos adolescentes. E é nesta idade ou fase que erramos muito, temos atitudes extremas, exageramos em tudo e achamos que nada vai nos derrubar. É nesta fase que erramos muito, por isto ou por achar que ...enfim blá-blá-blá.

Conceitos. Já estamos cansados de conceituar tudo, dramatizar, copiar e acharmos que somos culpados pelo o que resultou na nossa idade adulta. Adulta? Conceito de novo. É difícil  saber em qual fase estamos.Talvez não estejamos em fase nenhuma. Somos únicos. O que resultou ? Não estamos em uma prova onde resultados são cópias de um teste para todos. E os erros são diferentes dependendo ou não de vidas, DNA, destino, escolhas, realidade, cotidiano. Idade dos erros? Adolescência, arrependimentos, constrangimento. Essa idade poderia ser chamada de treinamento para o teste da vida. Será? Confuso demais. Blá-blá-blá de novo, como a vida que se renova e para ninguém o novo não é o mesmo.

Mas os erros ajudam muito a acertar. Acertar mesmo o quê? Entrar nos padrões de não mais sonhar, de calar, de desviar caminhos, de escolher, de dizer coisas que hoje nos envergonhamos, de fazer coisas que hoje achamos ridículas.

No entanto, ridículo é calar, é ter medo de aventurar em caminhos, é ficar indeciso na escolha por medo de errar, de se arrepender. Ridículo é parar de sonhar, de aprender... é parar de errar. E rídiculo ainda maior e nomear fases ou mesmo dividir o tempo de acordo com regras.

Mas tudo isto é visto por um adulto. Fase de novo. Não tem jeito.