Postagem em destaque

Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Os olhos do camaleão


Quarta-feira. Sala de aula. Crianças de sete anos e o entusiasmo de apresentar uma pesquisa. A professora animada. Os alunos mais ainda. Alvoroço. Competição. Fuxicos. Bronca. Silêncio! Agora sim. O menino lê a sua pesquisa tropeçando nas palavras. A professora corrige. Pede que pare um minutinho. Quer comentar. Eles querem também. Ufa! A professora também aprende. Ela não sabia, que legal! A pesquisa? Ah, é sobre um bichinho engraçado: o camaleão. Ele muda de cor para se adaptar ao ambiente e enganar os predadores. Parece os humanos, não é mesmo? Também tem uma língua bem comprida. Parece língua de sogra. Mas o que as crianças mais gostaram foi dos olhos do camaleão. Descobriram que cada olho pode ter focos diferentes. Assim, quando um olho olha pra frente o outro pode olhar para trás, resultando dois campos de visão diferentes e ao mesmo tempo. Legal, né? A turma achou. Só que na sala tinha uma menininha com problema de foco nos olhos também. Ela é "vesga". Opa, não pode falar isto! Ela é estrábica. Não é que o Carlinhos notou uma certa "semelhança" com os olhos do camaleão? Pois é, ele percebeu que os olhos de Aninha pareciam com os olhos do camaleão e soltou o verbo "Gente, os olhos da Aninha são iguais aos do camaleão!" Aninha se aborreceu? Achou o máximo! Pensou que era elogio pois gostou muito do camaleão. Que foco foi a visão dela!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Dignidade


Sábias são as necessidades.
Quando falta alguma coisa e priva-se dela adquire uma sapiência pesada emergindo uma força não calculada.
Em um hospital público, por exemplo, deixa-se as últimas consequências do necessitar e nessa hora é visto o descaso com a dignidade contra parte da humanidade. As vítimas deste descaso, por força da sobrevivência, se descartam da parte humana e parte pra luta contra a aspereza com que são tratadas.
Recentemente foi observado um destes casos vistos todos os dias, que por força do hábito, torna-se "normal". E o que é interessante é que o problema é velho e parece novo.
Numa grande maternidade, onde recebe emergências e urgências, há casos de grávidas ficarem oito horas a espera de atendimento por conta da burocracia de uns tais adesivos coloridos indicativos de prioridades. Estas grávidas estão ali com os pés inchados, com os estômagos vazios, muitas vindas do interior sem dinheiro pra lanche e inseguras porque já estão no nono mês. E nenhuma explicação, nenhum olhar humano.
Além do desconforto físico, o desconforto mental dá lugar à fadiga de se sentir mendiga de um direito. E certos profissionais tomando cafezinho( não que não mereçam). É de doer o coração ver aquelas mulheres "fortes", com suas pastinhas do pré-natal debaixo do braço esperando o descaso as chamarem, depois que todos os despejados das ambulâncias chegarem ao fim. E o fim nunca chega.
Nessa hora começa uma revolução na maternidade. Uma das vítimas se revolta e quer falar com o Diretor do hospital. Ela faz a cabeça das outras. Saem em comitiva em direção à recepção. A recepcionista comovida com o relato das vítimas liga para a sala da diretoria. O Diretor não vem. Quem vem é a secretária, só que as vítimas pensam que ela é a Diretora. Reclamam. Cada uma conta sua história, a hora que chegou, etc e tal. A "cabeça" da revolução se exalta pensando que a suposta Diretora a mandara calar a boca. Os outros pacientes, que aguardavam se aproximam. A desordem predomina.A secretária que parecia ser Diretora tenta falar. Falam todas ao mesmo tempo. Ninguém se entende. Uma diz que vai chamar a imprensa marrom, outra diz que vai chamar a imprensa normal. O caos comunicativo se instala. Os seguranças ficam de olho. Chegam ambulâncias despejando mais gente no corredor "vip" do hospital em macas e cadeiras de rodas. No meio disso tudo a líder do grupo, comendo uma torta de frango, pois não tinha tempo a perder, falava com a boca cheia. Tava sem comer desde o café da manhã. Já sabe que grávida treme quando passa da hora de comer.
Finalmente a suposta Diretora consegue falar. Diz que todas seriam atendidas, que era para terem paciência, que os médicos estavam atendendo as emergências. Mas, alí não era a emergência? Ah, as emergências urgentes! A secretária explicou que o atendimento agora não seria mais por ordem de chegada mas por ordem de gravidade. Para isto, o paciente receberia adesivos em forma de selos redondos, do tamanho de uma rodela de batatinha "da onda". Estes selos deveriam ser fixados na roupa, na altura do peito ou nas pastinhas de documentos do pré-natal. Seria atendida por ordem de cor.Assim, o selo vermelho e o amarelo-gravíssimo e grave respectivamente;o selo verde e o azul média e pouca gravidade respectivamente. Percebe o descaso?
Muitas das vítimas desanimadas desistiram. Foram esperar ficarem "gravíssimo" em casa.Outras, querendo valer seus direitos, permaneceram lá sabe lá até que hora. Outras mais, usando de esperteza, começaram dar chilique, revirando os olhos, se fingindo de fracas para uma possível "promoção" para o selo vermelho.
Pura sapiência de pobre, a da sobrevivência!

sábado, 15 de agosto de 2009

Duas almas


Tenho duas almas
alma de poeta
alma de gente quieta

Tenho duas almas
a de poeta se veste de alegria
a de gente é nostalgia

Quem lê os poemas
não reconhece
não é a mesma
não se esconda
dizem
saia de baixo da
mesa

A vida não volta


Meu Deus
Sabe quem sou?
Penso que sei
Dono dos meus sonhos
mas eles estalam
chicotes contra mim

Meu Deus
Será que me vê?
Subo escadas atrás de ti
Escorrego na boca da noite
dos pesadelos
Me dormem os dias acordada

Meu Deus
Eu queria ter você
Mato um leão por mim
Estrago a cadeia alimentar
e transbordo frutas
floridas no céu do milharal

Meu Deus
É somente meu?
O que sente por mim?
Queria ser sua
mas divido seus
sermões aqui

Meu Deus
penso que és poligâmico
amor dividir
mas queres todo
o amor só pra ti
Divida-o com meu falso ego

Meu Deus
Vamos brotar perigo
vamos calçar o umbigo
e bravejar
cantigas sacras
É a mim que sou por ti

Meu Deus
engano eu sou
fantástico fantasioso engano
onde foram parar meus planos?
Chuvas e luas
foram e serão

Meu Deus
A vida não volta
quando vai
Queria a minha de volta
pra crescer o desespero
de ser gente

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Vida


Na janela passa
nuvens como passa
a vida


É alegre, é triste
e efêmera como sorvete
É uma viagem de férias

A morte aborta a vida
nos arranca à força
no entralaçar do tempo

Na janela passa a bola
que rola e dança
como brincadeira de criança

Que visão sonora
que delícia é a vida
esvoaçar do vento

Hoje


Pisar em flores
selecionar o polem
arrancar odores

poesia sem protesto
palavras ao relento
provocando brisa

Onde se pisa
flores no chão úmido
Cai o botão

Reelembrança da
estrada louca que retoma
coração

Perfume da vida
e o calar do tempo
Fadiga

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Livros




LIVROS

OS LIVROS SÃO ÓRFÃOS EM ORFANATO QUANDO ESTÃO NOS SEBOS; ABANDONADOS ESPERAM SEREM ADOTADOS!

LU/2008

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Baldeação


Palavra compõe
o trem perfeito
eleito o do ano
repleto de interrogação

Rir,
abrir o tempo
copiar o futuro
reler o agora:
interjeição

Final do trem

Pular,
aguardar a baldeação
Chegou ao final?
Não!
Há outra parada

Fim?
Que nada!!
O vai e vem
é contínuo

Medo de perder
a hora?

A hora é o agora
Pegue o que virá

Correr pra quê?
Chorar pra quê?

Tem outro trem
Tem baldeação
Cuidado pra não
perder a bagagem.

riqueza do que ficou

domingo, 9 de agosto de 2009

Cadê você mulher?


Olhe
mulher
sua fotografia

É você?

Quantas de você
pisou neste quintal?
Quantas de você
fez o almoço?
Quantas de você
carregou água
para molhar a rosa?

Quantas de você
alimentou o cachorro
abdicou das férias
para aparar a grama?

Olhe
mulher
sua fotografia
no jardim
que você cultivou
pensando na mocinha da novela
que foi à feira comprar kiwi
mas você comprou bananas

A casa não era de areia
nem de cera
E você preferiu
regar a rosa
ligar o modem
ponte pro
outro mundo

Ei, você, mulher
não tô te vendo
na fotografia

Quantas de você
desapareceram no tempo

Olhe seu rosto
sulcos em volta
dos seus olhos
cobrem flores e pétalas
abrem rios para as lágrimas

Cadê você mulher?

Desapareceu

O Domingo

Domingo, dormindo. É o dia da preguiça e nem palavras inusitadas dão pra descrever este dia. O pior é que é porta pra segunda feira. Que chatice. Segundo dia de rabugice. É, nesse dia é preciso acordar cedo. Acordar pra vida. Vida real? Sim. No domingo tudo é morno, água mansas próximas ao precipício. Na segunda abre-se as compotas das águas paradas de uma represa e escorre tudo água abaixo enchendo o leito descoberto pela areia. Ai daquele que estiver boiando. Será arrastado até o precipício e jogado já quebrado nas pedras.

Então, o domingo são águas represadas, calmas, insulsas, mornas, enquanto a segunda-feira são águas rebeldes correndo, formando ondas, arrastando o que estiver a sua frente até te derrubar no precipício. É dia de lutas. É a competição para a vida. Salvem-se quem puder. A luta é dura. Exagero?