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Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

terça-feira, 2 de abril de 2013

Um resto

Ela tava esperando. Olhar cansado. Olhava desanimada para as mãos. Passava o olhar para os pés. Sentada debaixo de um grande e velho eucalipto num desses bancos de praça. Mas não era praça onde ela estava. Ela estava aguardando notícias do único irmão que estava internado no hospital da universidade federal.

Pensava...O que se sujeitava uma pessoa desprovida de dinheiro? Se doava como cobaia para jovens estudantes de medicina. Da outra vez o irmão tinha operado um dos rins para a retirada de uma montanha de cálculos e quase não resistira. Tiveram que interromper. Hemorragia, paradas cardíacas fizeram jovens médicos estudantes experimentarem a adrenalina. O irmão? Ali... Ela lá a olhar para as mãos, pés. Pessoas passavam pra lá pra cá. Bolsas de sangue. Correria mas ela tava lá fora debaixo de um velho e grande eucalipto às oito horas. Num dia de sol e a ponta de um edifício rosa salmão com branco creme em cima numa falha do eucalipto. Na janela ? Nada. Queria estar ali. Naquele charmoso edifício, charmoso apartamento. Mas não. Tava no pátio do prédio do hospital público que fazia cirurgia grátis.

Pensava... Seu  irmão ia repetir a mesma e intensa experiência de se dar em cobaia para mais um corajoso jovem médico. E dessa vez foi com medo como uma criança que ia tomar injeção. Mas foi. Não tinha opção. Nem plano de saúde.

Lá vinha uma notícia. Era o primo médico. Achava ele tão bonito. Tão camarada. Quase um pequeno Deus. O olhar doce. Guerreiro. Desde criança se destacava em equilíbrio e sensatez. Era de estatura mésia. Miúdo. Charmoso.

Um olá, um abraço terno, longo e as notícias.

Olhar cansado, angústia. De repente uma ratazana cruza o jardim. Para bem na frente bem devagar e cata um resto de comida...

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