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Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

domingo, 10 de abril de 2011

Silêncio

Hoje Helena recitou um verso simples de decorar. Um verso curto como a paciência das pessoas que não gostam de ler.

Ela assim o fez numa voz sonolenta:

Ruídos no silêncio
da noite
tiro ou balões?

Helena sabia que versos tem sonoridade mas estava com sono, não conseguia dormir por conta dos ruídos do funk do vizinho e da gritaria:

"Tô ficando atoladinha
Tô ficando atoladinha
Tô..."

Lembrou-se de Tom Zé quando ouviu estes ruídos desinteressantes. E ele viu arte nessa música. Se referia a um desdobramento atual da Bossa Nova. Será que Helena entendeu direito a entrevista no Jô? Entendeu a mensagem? Tava com sono? Ruídos na comunicação roía também a sonoridade dos estouros. Balões ou tiros?

Helena se irritava fácil. Ainda mais nos sábados de faxina e aqueles versos, os da atoladinha, têm som de faxina e sábados mal dormidos:

"Tô ficando atoladinha/ruídos no silêncio"

Nem mesmo a luz da tela do computador, tão atraente, trazia a luz do acordar. Ela queria dormir e o funk da preguiça a fazia acordar. E a Bossa Nova calma cheirava a pão amanhecido, já que o tempo de Helena era curto.

Helena possuía nos olhos rugas. Não só em volta mas dentro também. Sua visão do mundo após ter retraído, dilatou e depois enrugou. Já não via com clareza beleza e cor. Preferia versos curtos, fáceis. E, como sua visão não desenrugava...Nem plástica resolveria. O verso foi ficando curto, curto...

Ruídos
tiro
estouro


De repente Helena queria cortar também palavras:

Ruí
ti
estou

Depois cortar sílabas
Ru
es

Por fim letras
R
e

Helena não conseguia abrir mais os olhos.

E de tudo que não via sobrou um vazio no silêncio.

O tilintar dos ferros no ataúde fez um hiato.

Helena não via.

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