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Atraso

Tava pensando no atraso. Ele faz bem porque pode  evitar um acaso sem culpa. Pode celebrar a vida no paraíso ou evitar a causa do falecido....

sábado, 22 de outubro de 2011

Uma questão de visão

Ela teve uma vida...Simples? Mais além: sofreu na infância privações econômicas, assédio de todas as espécies desde sexual até...Mas o que mais a incomoda é que em um desses assédios partiu do próprio pai, que mesmo depois de morto ainda a faz lembrar com mágoa.

Casada, beirando os cinquenta anos, com dois filhos. Um já quase se casando, universitário. O outro com dez anos. Uai, que diferença é esta de idade? É que este de dez anos foi adotado por ocasião de uma promessa. Ah, tá. Explique. Certo.

Ela quando solteira trabalhava em casa de família porque seu pai alcoólotra não provinha a casa do necessário. Sua mãe lavava roupas pra fora e ainda por cima todo dia levava uma coça impedindo-a de trabalhar até mesmo em casa. Imagine de quem levava a coça? E ela, não a mãe, foi se revoltando...

O que vem ao caso é que aos dezessete anos já há muito tempo trabalhava e ganhava seu dinheirinho. Aproveitou este dinheirinho e pagou um curso técnico de enfermagem.

Era uma correria. Saía do trabalho, onde dormia, e ia pro curso que começava ás dezenove horas.

Conseguiu concluir o curso. Estava orgulhosa de si. Prestou concurso. Passou. Foi chamada. É lógico, depois de quase vencer dois anos. Era pela prefeitura, num CAIS. O salário? Pouco mais de um salário mínimo. Para completar, trabalhava num hospital particular também. Era a semana inteira sem dormir de noite. De dia, trabalhava nos trabalhos rotineiros de dona de casa. Era muito perfeccionista com limpeza e organização. Nesse meio tempo já tinha se casado.

Depois de mais de dois anos casada não conseguia engravidar. Então resolveu fazer uma promessa. Ela adotaria uma criança negra, porque é real que num país preconceituoso, para estas crianças é difícil serem introduzidas ao lar da maioria de brancos. É fato. Foi atendida. Nasceu um menino. Depois de muito tempo cumpriu a promessa e também não teve mais filhos.

Seu marido era um homem tranquilo, ajudava muito nas tarefas de casa. Mas ela com o tempo se tornara rude, exigente, maníaca com limpeza e organização. Sargento mesmo.

Ganhou um terreno e começou a construir. O marido foi o pedreiro e ela o servente. Isto tudo nas horas vagas.Sua casa ficou pronta. Mas sempre faltava algo e a casa viveu em frequentes reformas até se completar no mais ou menos ideal. Será?

Passou no concurso da saúde em esfera federal. Hospital das clínicas. Este pagava bem. Mas não largou o do CAIS. Largou o do hospital particular.Foi enchendo a casa de todo o aparato consumista, financiamentos, etc. Cartões com limites médios. Viagens de férias, almoços para a família, churrascos, ceias de Natal. Tudo realizado em sua casa. Salão de beleza toda semana. Sapato novo. Enfim,...

Os filhos foram crescendo e o apego às coisas também. Cresceu ainda mais a agonia por limpeza e organização. Não se sabe sé era doença mas via bactérias até na boca do marido, evitava de beijá-lo.

Um dia começou a mediunizar bactérias. Ela as via literalmente. Via se movimentando no ar como borboletas. Via nos pratos, na pia, no cachorro, no gato, nas plantas, no banheiro, em seu corpo, nas pessoas. E não era coisa de sua imaginação não. Ela via mesmo.

E era como se seus olhos tivessem virado microscópio, como que se tivessem lhe implantado lentes de aumento. Mesmo com os olhos fechados , via.

Passou a limpar, limpar que não mais via em sua volta a própria vida e os benefícios de suas conquistas.

Ela era um microscópio, só enxergava coisas minúsculas.

Ela, a vidente, ela perfeita, máquina...limpeza!

Será que Freud explica?

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